terça-feira, 13 de setembro de 2016

Peixes e a lembrança

De repente eu simplesmente pisquei os olhos e acordei. Com a pior das lembranças. (Mas eu nem estava dormindo).
Acordei com a lembrança de tudo que eu tinha esquecido. Cinco anos inteiros!
Mas da mesma forma que eu não estivera dormindo, eu também não tinha esquecido. Eu estava acordado e lembrava perfeitamente de tudo.
Até o momento que eu acordei de estar de estar acordado e lembrei de tudo que minha lembrança me tinha feito esquecer.

Meu primeiro esquecimento tinha sido o de perdoar.
Eu não me perdoei por te querer tão errada, não te perdoei por não ter me aceito. Não me perdoei por ter insistido e não te perdoei por ter se rendido. Não te perdoei por me propor mudanças, não me perdoei por ter me divertido tentando. Não te perdoei por ter tentado, não me perdoei por ter conseguido. E neguei.

Meu segundo esquecimento foi negar. 
Eu neguei que não te quis e que te queria. Eu neguei que tínhamos tudo pra dar errado e depois neguei que fracassamos. Eu neguei que valia a pena tentar de novo e de novo e de novo. E até agora, quando eu finalmente me lembro, eu acho que continuo negando.
Eu neguei que você estava do meu lado (mas agora que você não está mesmo!).
 Eu neguei que estava errado (mas te neguei o direito de estar errada).
 E neguei que você estava certa. Ainda agora, quando eu acho que já lembro de tudo, não posso deixar de te negar isso. Eu conheço todas as suas certezas, e eu lembro de todas elas.

E meu terceiro esquecimento foi lembrar.
Eu simplesmente me lembrava de absolutamente tudo!
Eu me lembrava de como você havia me ferido e de como seria injusto que esquecer disso. Eu me lembrava de como eu havia te ferido e de como esses ferimentos eram uma justa retribuição aos que você tinha me causado. Eu me lembrava de como eu queria estar ao seu lado e de como era tão difícil estar com você.
Eu me lembrava de tudo que havia te prometido ser e então me lembrava de como o seu cinismo me eximia da difícil tarefa de tentar cumprir minhas promessas.

E meu último esquecimento foi a dor.
A dor de perceber que eu não era quem eu te prometi que seria. A dor de perceber que você nunca foi a pessoa que eu achei que você poderia ser. A dor de perceber que eu tentei. A dor de perceber que você tentou. A dor de perceber que nenhum dos dois percebeu as tentativas do outro.
E esse último esquecimento se trancou num cofre com todos os outros. Num cofre de alívio onde os acontecimentos passaram a existir apenas numa memória flexível de datas, cheiros, sorrisos, lágrimas... mas as lembranças permaneciam completamente protegidas no esquecimento de seus significados.
Até o momento que eu acordei e lembrei.

Mas que droga! Agora estou percebendo que naquele momento, alguns instantes atrás, eu estava apenas começando a lembrar. Eu não tinha lembrando de tudo.
Foi esse texto, cuja intenção inicial era de me aliviar, que completou a tarefa das lembranças!
Ou será que completou mesmo?
Afinal, é tão mais fácil chamar essa reflexão de um novo estágio do esquecimento e tentar ir dormir em paz...


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