sexta-feira, 11 de março de 2011

Confetti

Vesti a fantasia e pensei: "Porque não?"
Afinal, já tinha algum tempo que eu vinha me sentindo uma super-heroína. Desconfiava que tinha desenvolvido algum poder ou super-habilidade e aquela seria a ocasião perfeita para testar essa teoria.
Saí de casa e no meu caminho pela rua avistei pelo menos outras três mulheres com uma fantasia parecida. Mas a minha tinha aquele segredo. A delas era só uma fantasia mesmo.

Cheguei na praça. Estava calor.
No meio do céu azul claro o sol brilhava sem nenhuma reserva e eu fui pra baixo de uma árvore, não à procura de sombra, mas pra olhar pra cima. Eu sempre gostei da combinação do verde das folhas diretamente sob o azul puríssimo do céu. Fiquei com um sorriso meio idiota na cara, observando a dança preguiçosa das folhas na brisa quente. Sentia-me leve e feliz como um balão que acaba de ser solto no parque.

Aos poucos comecei a me dar conta dos sons ao meu redor. A praça estava tão cheia!
Música alta, pessoas conversando, sorrindo, cantando... todas muito coloridas, com chapelões absurdos, máscaras, espadas de plástico e tantas outros acessórios que de tão ridículos eram lindíssimos!
Uma explosão caótica de cores, sons, cheiros e sensações que elevavam o meu humor a um estado de quase transe eufórico.

Resolvi começar os testes: me aproximei de um carro azul turquesa que estava estacionado no meio da praça, e, sem nenhuma vergonha de parecer ridícula, tentei levantá-lo. Ele não se moveu, mas as pessoas em volta gostaram da minha tentativa e começaram a bater palmas, sorrindo e dando gritos de incentivo!
Senti uma leve decepção, porque super força era o poder que eu teria preferido, mas a simpatia das pessoas à minha volta redobrou o meu ânimo!

Me afastei para um novo ponto da praça e tentei o segundo teste, um pouco mais discretamente. Estendi uma mão e tentei fazer com que uma lata de cerveja saísse do isopor do camelô e viesse parar na minha mão. A telecinésia não funcionou, mas o camelô viu minha mão estendida e achou que eu estava interessada em comprar a bebida, por isso tirou uma lata de Antártica do fundo do gelo e botou na minha mão dizendo: "uma é três, duas são cinco".
Paguei os três reais e me afastei outra vez, sentindo o gole gelado refrescar cada órgão por onde passava dentro do meu corpo.

Mais ou menos duas horas se passaram enquanto eu realizava outras tentivas em volta da praça. Eu já havia riscado da minha lista de possibilidades: a imunidade à dor física, a visão de raio-x(outro grande desapontamento), a habilidade de controlar fogo e água, a auto-cura e a super velocidade, que me rendeu um fracasso um tanto quanto embaraçoso.

Já sentindo o bom humor inicial começar a ser subtituído por uma impaciência meio irritada, saí do meio da multidão e comecei a caminhar por uma das ruas paralelas, onde o esqueleto de um carro alegórico estava abandonado desde a noite anterior, após o desfile.
Caminhando no sentido oposto, ou seja, vindo em minha direção, estava um homem que parecia ter acabado de chegar ao local. Ele não vestia fantasia nenhuma, mas usava um "cap" de capitão. Lembrei de um outro superpoder que eu ainda não tinha tentado e olhei em seus olhos, na tentativa de ler seus pensamentos.

Por alguns instantes achei que havia funcionado porque quando nossos olhos se cruzaram eu senti algo se agitar dentro de mim causando um calafrio que percorreu todo o meu corpo. Mas não demorou pra que eu percebesse que não estava lendo os pensamentos dele. Seus olhos me encaravam, mas eu permanecia perdida naquele verde profundo e silencioso, como um barco à deriva em alto mar.

Ele se aproximou e abriu um sorriso discreto, como se já me conhecesse há muito tempo. Com uma piscadela de olho ele pegou minha mão e falou: "vem comigo."

Eu o segui e ele me ajudou a subir no carro alegórico abandonado. Chegamos ao topo do lugar resrvado para o destaque mais alto e e observamos juntos por alguns segundos a praça, que ao longe, parecia infestada de formigas coloridas.

Então ele tocou de leve meu rosto, me beijou e eu percebi com muita satisfação que estavamos voando.

4 comentários:

Natalia B. disse...

Todos têm seus super-poderes! Gostei, é hilária a tentativa de tele-transportar a cerveja e carregar o carro, rsrs... Vou ver os outros Blogs, passa no meu ;)

Anônimo disse...

Dona monstrinha,

A crônica foi ótima (e dessa vez na medida certa).

O final foi simplesmente poético!

beijos

Kelly Christi disse...

Pois é, paixão é assim mesmo... embaraçosa e que não se percebe, eu curto os seus delirios, moça... estão cada vez mais lucidos e não delirantes, na medida em que passo por aqui... bj

Caldas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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